2. Talvez "chorar" seja por demais abrangente; talvez não se deva reduzir todas as lágrimas a uma mesma significação; talvez haja, no mesmo enamorado, diversos sujeitos que assumem modos semelhantes, mas diferentes, de "chorar". Quem é esse "eu" que tem "lágrimas nos olhos"? Quem é aquele outro que, tal dia, esteve "à beira das lágrimas"? Quem sou eu, eu que choro "todas as lágrimas de meu corpo"? ou que derramo, ao acordar, "uma torrente de lágrimas"? Se tenho tantas maneiras de chorar é, talvez, por sempre me dirigir, quando choro, a alguém, e por não ser sempre o mesmo o destinatário de minhas lágrmas: adapto meus modos de chorar ao tipo de chantagem que, por minhas lágrimas, pretendo exercer à minha volta.
Trecho tirado do livro "Fragmentos de um discurso amoroso" de Roland Barthes.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
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