domingo, 3 de maio de 2009

O TRAJETO DE VOLTA PRA CASA

Depois de um dia de serviço puxado, com encontros com marceneiro, clientes, aprovação de projetos e materiais, enfrentei mais um engarrafamento de volta pra casa.
No carro, com os vidros fechados para evitar o vento frio que começa a soprar aqui em BH, eu ainda ria sozinha dos papos engraçados que rolaram no happy hour com as minhas amigas. Como ninguém é de ferro, resolvemos nos encontrar para conversar fiado tirando proveito do feriado do dia seguinte.
Dirijia tranquila apesar do corpo cansado. Como de costume procurei a lua. Queria conferir sua presença. E ela estava lá sorridente. Muito prata num céu muito preto! Linda!
Ouvia no rádio uma música comum, sem grandes emoções. Mas não troquei a estação e não estava a fim de procurar um cd para tocar. Estava simplesmente ouvindo a melodia, distraída.
Olhei pelo espelho do retrovisor interno e no carro atrás do meu havia um casal. Aí eu pensei(com aquela pontinha de inveja branca, confesso): "Véspera de feriado... Esse casal deve estar preparando um cineminha em casa, pipoquinha, coca-cola etc. Que delícia!"
Mas esse pensamento logo se dissipou através das luzes ofuscantes dos outros carros, buzinas, motoqueiros e todos esses "Srs. Volantes" dos dias atuais.
Olhei novamente para o retrovisor e o carro do casal ainda estava atrás de mim. Comecei a prestar mais atenção. E a cena que eu via naquele reflexo era: Um rapaz jovem sério, nervoso, que gesticulava com as mãos e falava de forma ríspida. A moça também jovem, estava com a cabeça apoiada no encosto do banco, olhando fixamente para a frente e não dizia nada, só ouvia. Ele acendeu um cigarro e continuou com os gestos nervosos e a discussão. Um momento depois a moça pôs uma das mãos em um lado do rosto e fechou os olhos. Assim permaneceu por alguns minutos. O rapaz, ainda mais irritado, mudou de faixa e tirou o carro detrás do meu arrancando apertado num espaço entre dois carros.
Que bom! Não precisei mais olhar aquela cena triste e pude valorizar muito o banco do passageiro vazio ao meu lado, a minha liberdade de não ter que ouvir ninguém e nenhuma discussão. Eu comigo mesma, ouvindo aquela música que não me agradava, mas que eu estava ouvindo por opção.
E ao chegar em minha casa, pude sim preparar uma sessão de cineminha (tudo bem, novelinha), mas tendo a companhia da família e um jantarzinho quentinho delicioso. Depois foi só entrar debaixo das cobertas, dormir e curtir o feriadão.